Queridos amigos!
Partilho com os amigos
estas letras que ao lê-las me fizeram doer a alma. De quando em quando vou até
ao Mural da minha filha que ela deixou em aberto, sempre na esperança de
encontrar alguma coisa, nem sei bem o quê. Nas suas notas encontrei este
escrito. A minha amada filha nunca deixou transparecer esta dor, mas na sua
solidão, porque apesar de nunca estar só, a solidão, a preocupação, a dor, o
desânimo e até a falta de esperança estavam lá, este escrito é a prova disso
Ainda pior que a
convicção do não
é a incerteza do talvez
é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda
que me entristece, me mata
Trazendo tudo que poderia ter sido
...e não foi
O que mais me entristece, não é a falta de
convicção, mas sim uma inércia estupida que nos acompanha ao longo da vida, não
que a queiramos mas porque a sociedade nos torna assim. Deixamos para trás a convicção
dos bons modos e enveredamos por caminhos opostos, ignoramos a simplicidade de
dizer “Bom dia” com quem se cruza pronunciando sussurros de “deixa-me em paz”,
“não faças perguntas”, porque hoje posso responder-te em mau tom. Neste momento
da minha vida penso que se não fosse a minha condição de saúde (cancro do colon
do recto) eu poderia ter sido alguém, mas como a Grande actriz Maria Ruef diz e
muito bem “ o meu país não deixou”. Pergunto-me com uma lagrima gorda no
coração o que me levou o meu destino a ter uma vida arrefecida, sinto-me uma
epítrope remando contra um tsunami, que só esperava ser feliz. Estou arrumar as
minhas gavetas de Dali e em algumas delas só encontro dor, incertezas, e
abandono. E se me doí o coração ao escrever isto, acho que não conseguem
imaginar. Desde 2009 ando na labuta constante pela vida, ao acordar e olhar-me
no espelho e dizer “hoje estou VIVA!”, trazendo no peito uma bomba de
tratamentos de quimioterapia, as lágrimas correm-me muitas vezes pela cara, os
meus olhos têm o som de uma cinira que eu tento a todo custo melhorar à medida
que as horas vão passando. E às vezes parece que essas horas teimam em ficar
paradas, mas tento e tenho conseguido levantar a cabeça falar comigo mesma e
insistir que vou conseguir subir mais um degrau, e sorrir, porque o meu mundo
tem muito para me dar e eu a ele. Mas…
Depois em dias como o de hoje que nem estou assim
tão mal pergunto-me onde andas meu Dom Quixote, que querias encontrar o teu
Amor e um moinho, meio caminho eu já o tenho que é o Amor, mas onde se encontra
o moinho, a casa, o país, é com este país que estou profundamente angustiada,
desiludida até mesmo perdida, porque tenho tanto Orgulho na história do meu
Hino que choro ao ouvi-lo, que me custa estar a ser manipulada pelas gárgulas
da ganancia, do excesso de poder, que deixa o meu povo sufocado pelos gritos
que damos, mas não são ouvidos. Podíamos estar no topo do MUNDO, e olho para
este nosso moinho e não encontro futuro. Queria ser otimista ver uma luz ao
fundo do túnel mas as notícias fazem-me colocar num realismo absolutamente
desesperante, não obstante tento aferroar-me todos os dias para poder estar
melhor comigo mesma, não esquecendo que vivo num MUNDO rodeado de MOINHOS. Mas
o que eu quero MESMO é sentir-me ORGULHOSA no MEU.
Carla Alves