Tenho a sorte de ter nascido um espírito livre, ou de me ter tornado um espírito livre, apesar da educação austera, da culpa católica, da noção do pecado e expiação, do medo do castigo divino. Não sei que força interior venceu todos os meus medos e derrubou todos os padrões, mas tenho hoje a certeza de que me é algo próprio e inato.
Fixo os olhos no rio, a luz ficou demasiado forte e, ao reflectir-se na água, irradia milhões de pontos de luz que cegam o olhar mais temerário. Haveriam pintores que se aqui estivessem pintariam como loucos, o dia inteiro, sem parar, até ao cair da noite.
Eu pinto o mundo com as palavras, porque, como todos os sonhadores, gostava que o mundo fosse outro lugar mais belo e mais fácil, menos sujo e injusto, com menos lixo nas ruas e no coração das pessoas. Pinto o mundo, não como é, mas como gosto de imaginar que pode ser. Foram as pessoas que olharam para o mundo e sonharam que ele podia ser diferente que o conseguiram mudar. Partiram em caravelas, inventaram a electricidade, construíram caminhos- de- ferro, transformaram desertos em jardins, florestas em cidades e foram à lua: Só há duas coisas que nunca mudam no coração dos homens: O ódio e o amor.
Os dias aos dias sucedem
Suas noites no tempo
Transpiram flechas e ardem
No tempo: Tempo de medo
Quis eu rever a vida-mas só vida;
Aquela que nos ensina a sonhar
A que não penaliza a diferença
Igual para todos o verbo amar...
Sem tempo para ter medo
Transpirar orvalhos doces de palavras
Quentes e cheias de esperança
Agarrar o mundo e voar nas suas asas
Serei livre como os pássaros
Viverei à luz do sol, dos rios e dos vales