segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"EXTRACTOS"


A vida corre tranquila do lado de fora da minha janela; ouço os carros que se movimentam na minha rua, ouço a tosse dos velhos que, todos os dias se sentam à mesma hora e se levantam à mesma hora como que esquecidos de tudo e por todos.  Há o riso das crianças que brincam na praceta do jardim e alegram a paisagem num contraste distanciado de gerações. O sol percorre o seu caminho atravessando o azul do céu de toda a minha cidade. O meu olhar apanha um pássaro e voa para os caminhos livres do céu Vejo o rio sereno e grandioso como que fosse o meu saudoso Rio Tejo. Olho os campos secos pela falta de chuva e as árvores como mãos viradas para o Criador a pedir água, paz e preteção divina. Voo por todo o meu Portugal e pouso aqui e ali, onde o meu coração ficou anestesiado...
Tenho a sorte de ter nascido um espírito livre, ou de me ter tornado um espírito livre, apesar da educação austera, da culpa católica, da noção do pecado e expiação, do medo do castigo divino. Não sei que força interior venceu todos os meus medos e derrubou todos os padrões, mas tenho hoje a certeza de que me é algo próprio e inato.
Fixo os olhos no rio, a luz ficou demasiado forte e, ao reflectir-se na água, irradia milhões de pontos de luz que cegam o olhar mais temerário. Haveriam pintores que se aqui estivessem pintariam como loucos, o dia inteiro, sem parar, até ao cair da noite.
Eu pinto o mundo com as palavras, porque, como todos os sonhadores, gostava que o mundo fosse outro lugar mais belo e mais fácil, menos sujo e injusto, com menos lixo nas ruas e no coração das pessoas. Pinto o mundo, não como é, mas como gosto de imaginar que pode ser. Foram as pessoas que olharam para o mundo e sonharam que ele podia ser diferente que o conseguiram mudar. Partiram em caravelas, inventaram a electricidade, construíram caminhos- de- ferro, transformaram desertos em jardins, florestas em cidades e foram à lua: Só há duas coisas que nunca mudam no coração dos homens: O ódio e o amor.
Não sou dona do tempo nem de nenhuma verdade, a não ser daquilo que sinto.

Os dias aos dias sucedem
Suas noites no tempo
Transpiram flechas e ardem
No tempo: Tempo de medo
Quis eu rever a vida-mas só vida;
Aquela que nos ensina a sonhar
A que não penaliza a diferença
Igual para todos o verbo amar...
Sem tempo para ter medo
Transpirar orvalhos doces de palavras
Quentes e cheias de esperança
Agarrar o mundo e voar nas suas asas
Serei livre como os pássaros
Viverei à luz do sol, dos rios e dos vales
Mesmo em tempos de mudança..
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(Escrito por: Angelina Alves)




1 comentário:

Dina Rodrigues disse...

Olá Angelina, que bom que a vida corre tranquila... gostei de ler o teu texto!

É difícil publicar os comentários porque nunca se acerta com as letras dos caracteres. Vamos ver se consigo...

Beijo
Dina