terça-feira, 24 de setembro de 2013



Quando penso que há mais de cinquenta anos, olho o céu, o mar e a terra e, há uns tantos que escrevo sobre a vida à minha volta e tudo o que ela encerra, questiono-me tantas vezes que fazer com os espaços que ficaram vazios, os amigos que se foram sem deixar rasto e os que morreram, que embora nunca esquecidos os seus espaços estão vazios. E, os poetas que eu tanto amei e neles me debruçam alinhando as minhas letras em jeito de poesia. Folhear um livro de moradas, a velha lista de telefones já desatualizada e até mesmo quem mal conheci, mas às vezes com eles me cruzava. Questiono-me a mim mesma se outros mais felizes que eu, terão assim vazio os seus espaços e sentem vazia a sua vida, assim como eu!
Creio que não. A deles se reduz, encolhe de miséria consentida, e torna-se uma sala de visitas onde recebem dia e noite os seus amigos novos. Mas quem de liberdade e lealdade, como o amor humano se viveu, fica num espaço cada vez mais vasto, onde os vivos que traíram e os mortos que morreram tremem de ser lembrados com saudade ardente. E o espaço fica – ah se fica – e ninguém ousa mais que espreitar a medo para dentro dele pelas grades de um verso em que palpita a vida, tão pura e tão ausente como quando um dia, primeiro ela vibrou um cheiro a maresia, ascendendo das águas, luminosas, num corpo ainda escamoso cuja pele seria este sabor de espaço de ternura em solidão perfeita descobrindo o amor. 



No ar quase em memória
Finda, o dia na minha alma
Infantil a minha história
Canta, reza pergunta e fala
Há uma lágrima presa na minha voz
E aos meus dias como a ilusão
Canto o orvalho, a musica a sós
Vazio o espaço triste solidão
Porque escrevo ainda?
Porque uso as palavras cantando?
Porque nada em mim finda
Enquanto houver pássaros voando
Até quando terei eu o uso das palavras
O uso das frases inacabadas que dançam
E, a voz enrouquecida no peito das lavas
Ondulantes que me tolhem que me encantam
Há um espaço, um cheiro sem tempo
Há palavras cantadas por todo o universo
Que nunca morrem, nem as leva o vento
Há espaços, dores e solidão em verso
E, há sons que são de encantamento
De magia, de alegria ou de suplício
Haverá uma música em todo o tempo
Cantável é a música do amor por quem suspiro.


Escrito por:  Angelina Alves



1 comentário:

Mario disse...

Olá Ange!
Há já alguns dias que não te visitava nesta tua sala de visitas.
gosto muito deste teu poema... aqueles que partem deixam de facto espaços vazios, mas esses espaços são preenchidos com as boas recordações que eles nos deixaram... outra riqueza, outro tesouro, outros valores que devemos apreciar.
Um grande abraço.