Uma névoa branca
Hasteava o dia
Num terno esboço de pureza
Embalava a nossa poesia
Ficar e sonhar
Com o segredo das pedras e dos passos
Nelas adormecidos
Abriam-se nos céus novos espaços
Angelicamente prometidos
Ao voo dos pássaros
Á beira mar
Olhava o esplendor entre os navios
Na hora do lusco fusco matinal
Avistava navios barcos casarios
Numa solene onda musical
Ainda o archeiro
Olhava a desorientada flecha
Que redonda caia na sua angustia
Tudo andava eu quieta
À beira mar
A tarde de rosto escondido levada
Num final de esplendor
Fundo de tela pintada
Ah! tanta vida tanta cor...
Vi ainda o vento em movimento
E tantos olhos que neles fitam
Vi o fogo de artificio
Vi a pena e vi a dor
Vi homens e mulheres que na terra habitam
Vi amor e vi tanto sacrificio
Vi gente e vi ninguém
Vi o sol e as estrelas
Vi a costa num vai vem
Vi as grandes ondas belas
E tudo se repetia
A dor agarrada à tristeza
O pobre e a burguesia
Se juntavam na mesma mesa
Numa farça representada
E tudo se movia
Naquela terra parada
À beira mar...
(Angelina Alves)
Sem comentários:
Enviar um comentário