Quando penso que há mais de cinquenta anos, olho o céu, o mar e a terra e, há uns tantos que escrevo sobre a vida à minha volta e tudo o que ela encerra, questiono-me tantas vezes que fazer com os espaços que ficaram vazios, os amigos que se foram sem deixar rasto e os que morreram, que embora nunca esquecidos os seus espaços estão vazios. E, os poetas que eu tanto amei e neles me debrucei alinhando as minhas letras em geito de poesia. Folhear um livro de moradas, a velha lista de telefones já desatualisada, e até mesmo quem mal conheci, mas ás vezes com eles me cruzava. Questioino-me a mim mesma se outros mais felizes que eu, terão assim vazio os seus espaços e sentem vazia a sua vida, assim como eu!?...
Creio que não. A deles se reduz, encolhe de miséria consentida, e torna-se uma sala de visitas onde recebem dia e noite os seus amigos novos. Mas quem de liberdade e lealdade, como o amor humano se viveu, fica num espaço cada vez mais vasto, onde os vivos que trairam e os mortos que morreram tremem de ser lembrados com saudade ardente. E o espaço fica – ah se fica – e ninguém ousa mais que espreitar a medo para dentro dele pelas grades de um verso em que palpita a vida, tão pura e tão ausente como quando um dia, primeiro ela vibrou um cheiro a maresia, ascendendo das águas, luminosas, num corpo ainda escamoso cuja pele seria este sabor de esapaço de ternura
em solidão perfeita descobrindo o amor.
No ar quase em memória
Finda o dia na minha alma
Infantil a minha história
Canta, reza pergunta e fala
Há uma lágrima presa na minha voz
E aos meus dias como a ilusão
Canto o orvalho a musica a sós
Vazio o espaço triste solidão
Porque escrevo ainda?
Porque uso as palavras cantando?
Porque nada em mim finda
Enquanto ouver pássaros voando
Até quando terei eu o uso das palavras
O uso das frases inacabadas que dançam
E, a voz enrrouquecida no peito das lavas
ondulantes que me tolhem que me encantam
Há um espaço, um cheiro sem tempo
Há palavras cantadas por todo o úniverso
Que nunca morrem, nem as leva o vento
Há espaços, dores e solidão em verso
E, há sons que são de encantamento
De magia, de alegria ou de suplício
Haverá uma música em todo o tempo
Cantável é a musica do amor por quem suspiro…
Escrito por: Angelina Alves