Eu teria na altura os meus doze anos, a Celeste e a Esther tinham quinze anos de idade e eram as minhas melhores amiga. Havia entre nós uma grande cumplicidade. Ao domingo era dia de visitas dos nossos familiares, nós sempre nossa juntávamos para entre nos dividirmos as coisas que os nossos familiares nos levavam. Não nos era permitido ficar com dinheiro se acaso os familiares nos dessem, teríamos de o entregar. Estávamos na altura do Natal e o Carrocel já se fazia sentir. Eram as pessoas que juntas faziam um frenesim que nos chegava até altas horas da noite, era o cheirinho a fartura que nos chegava de uma forma adocicada deixando uma vontade de saborear aquela coisa que para nós era proibida. Ficavamos uma vontade de dar ao pé dançando ao som da musica que nos ia chegando. As irmã gémeas receberam dinheiro dos pais e desta vez decidiram não o entregar. Vamos andar de carrocel e comer fartura disseram elas: Soube então confidênciado por elas que havia uma passagem secreta para a rua, poucas raparigas sabiam. Combinaram com um grupo de cinco amigas, eu era a mais nova mas, era a mais alta assim sempre fazia parte do grupo das mais velhas e porque as gémeas eram minhas amigas e eram elas que tinham o dinheiro. A mim calhou-me de ficar de vigia, mas antes fizemos um pacto de sangue de ninguém dizer nada a ninguém. Picamos um dos dedos com uma agulha até fazer sangue e juntamos os dedos dizendo ao mesmo tempo: Quem falar morre. Eu fiquei muito assustada pois se descobrissem poderia ser expulsa do colégio, mas era a forma de eu entrar no grupo das mais velhas e era o que eu queria. Esperamos pela hora do recreio, apesar de fazer muito frio depois de jantarmos tínhamos sempre meia hora de recreio antes de nos dirigirmos às camaratas para dormir. A tal saída secreta ficava junta ao caramachão o local onde recebíamos as nossas visitas, era uma espécie de estufa de flores, um dos sítios mais lindos e, perto ficava a piscina. Estava tudo apostos a meia hora de recreio para as minhas amigas foi passada na rua, elas não se podiam atrasar, quando o sino tocasse, era hora de recolher, não podia haver atrasos, não podíamos ser descobertas. Chegaram a tempo. Tudo correu bem. Mas coisas não ficaram por aqui, o problema veio depois. Na altura havia umas revistas que traziam umas novelas escritas e que de quando em vez às escondidas entravam no colégio e iam passando de mão em mão mas, sempre com o rigor de as esconder, pois estas revistas eram consideradas escandalosas e portanto, proibidas. Acontece que uma das do grupo lembrou-se de comprar uma revista destas e acabou por ser descoberta. Tudo isto trouxe grande confusão. Depois de grandes ameaças e alguma tortura psicológica, que passava pela sala do silêncio que era uma pequena sala com apenas uma cadeira e uma pequena mesa, composta com um copo cheio de água, que poderia durar vinte e quatro horas seguidas sem comer e sem deitar, ou seja este era o limite do tempo do castigo. poderia durar menos neste caso se ela falasse antes e dissesse quem lhe tinha dado o dinheiro. Havia um outro castigo muito severo e traumatizante, que passava por: Naquela altura havia na dispensa as arcas de açúcar, arroz feijão etc, ai havia também uma arca que estava vazia e era ai que era colocada a menina que entrasse para o castigo e se durasse mais de uma hora dava direito à expulsão do colégio. Estes eram os castigos a que todas temíamos. A Dulce a menina que tinha comprado a revista acabou por dizer que tinham sido as gémeas a dar-lhe o dinheiro, o que levou a que elas fossem expulsas também. Estas nada disseram de quem mais sabia nem sequer falaram da saída pela passagem secreta, caso contrário eu também tinha sido expulsa. Nunca soube se teriam descoberto a tal passagem, porque em casos de expulsão nunca nos deixavam despedir umas das outras. Este foi o natal que mais me custou a passar no colégio. Passei-o sem as minhas grandes amigas e nunca mais soube nada delas.
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