terça-feira, 17 de janeiro de 2017


Lágrimas ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
E a minha triste boca dolorida,
Parece-me que foi numa outra vida...
Esbate as linhas graves e severas
Que dantes tinha o rir das primaveras, E cai num abandono de esquecida!
O meu rosto de monja de marfim...
E fico, pensativa, olhando o vago... Toma a brandura plácida dum lago
Ninguém as vê cair dentro de mim!
E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Florbela Espanca

sábado, 14 de janeiro de 2017

O inverno floresceu-me
A tristeza de ti
E deixou no meu olhar
O voo da águia voando
Deixando-me a planar
Eu tudo ouvi e vi
Até o discurso do sábio
Aquele que depois o perdi
Aquele que me disse
Que a mentira estava ao lado
Mesmo ao lado de mim
Foste a ausência
Foste o excesso
Foste o direito
Foste o avesso
O tempo juntou
O Inverno e o Verão
Suavizou o meu coração
E do mesmo jeito
Aprendi que a solidão
É diluída no tempo
Onde se perdeu o medo
Onde viver tem razão
Agarrei a audácia da águia
Bebi da fonte a pura água
Fui sarando.
Procurei nos limites do mar
Senti-me poeta através da unidade
Da força da minha alma
Ganhei forças e a contemplar
Juntaram-se as letras do meu nome
Que haviam naufragado
Abri as portas do meu jardim belo
Ficou leve o meu fardo
Reabri o meu Castelo…
Escrito por: Angelina Alves







sábado, 7 de janeiro de 2017

" Ventos que se cruzam"

Pelas letras de um verso, sinto o palpitar da tua vida: A tua vida que foi tão plena e tão presente, como naquele dia que vibras-te chorando para dar as boas vindas enchendo-me de alegria. Nasceste cheia de luz para a vida.
Os teus olhos eram verdes azulados, a tua pele delicada como a mais pura seda, os teus cabelos dourados da cor do Sol. Por Lisboa os ventos traziam-me um cheiro a maresia, assim começou a tua - a minha história, que foi tão triste, tão alegre, tão luminosa, com tantos altos e baixos. O sabor do meu espaço onde tudo pode acontecer. A ternura, a solidão, a tristeza e a alegria, a paixão e o desespero, até ver-te morrer na viagem sem volta ao nosso mundo que tudo viu acontecer...
Valem-me agora as mais belas lembranças de ti: Valem-me os ventos vindos de Lisboa cá para o Nordeste Transmontano que me trazem o mesmo cheiro a maresia, o mesmo cantar e o mesmo silencio. Tudo se cruza. Tudo me envolve. Quando penso que há mais de quarenta anos nascia a minha Luz, a que me dava razão de vida, os poemas que então já te dedicava com todo o amor de mãe e até os amigos e amigas que por Lisboa ficaram sem volta. Tudo faz parte da minha história, tão presente na minha memória e como tu minha amada filha, sempre tão presente na minha vida. É em cada letra, em cada verso que eu sinto o palpitar da tua vida. Neste meu espaço cheio de ternura, onde os vales e as montanhas cantam para mim, onde se cruzam os ventos de Portugal e de Espanha e outros ventos que eu nem sei, mas que bem os sinto eu aclamo por ti. Porque por aqui deixas-te a força do teu sorriso, o calor do teu abraço e a ternura pela vida. Estas letras são dedicadas a ti minha muito amada filha. Com todo o amor da tua mãe Escrito por: Angelina Alves