sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Queridos amigos! 
Partilho com os amigos estas letras que ao lê-las me fizeram doer a alma. De quando em quando vou até ao Mural da minha filha que ela deixou em aberto, sempre na esperança de encontrar alguma coisa, nem sei bem o quê. Nas suas notas encontrei este escrito. A minha amada filha nunca deixou transparecer esta dor, mas na sua solidão, porque apesar de nunca estar só, a solidão, a preocupação, a dor, o desânimo e até a falta de esperança estavam lá, este escrito é a prova disso


Ainda pior que a convicção do não
é a incerteza do talvez
é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda
que me entristece, me mata 
Trazendo tudo que poderia ter sido
...e não foi
O que mais me entristece, não é a falta de convicção, mas sim uma inércia estupida que nos acompanha ao longo da vida, não que a queiramos mas porque a sociedade nos torna assim. Deixamos para trás a convicção dos bons modos e enveredamos por caminhos opostos, ignoramos a simplicidade de dizer “Bom dia” com quem se cruza pronunciando sussurros de “deixa-me em paz”, “não faças perguntas”, porque hoje posso responder-te em mau tom. Neste momento da minha vida penso que se não fosse a minha condição de saúde (cancro do colon do recto) eu poderia ter sido alguém, mas como a Grande actriz Maria Ruef diz e muito bem “ o meu país não deixou”. Pergunto-me com uma lagrima gorda no coração o que me levou o meu destino a ter uma vida arrefecida, sinto-me uma epítrope remando contra um tsunami, que só esperava ser feliz. Estou arrumar as minhas gavetas de Dali e em algumas delas só encontro dor, incertezas, e abandono. E se me doí o coração ao escrever isto, acho que não conseguem imaginar. Desde 2009 ando na labuta constante pela vida, ao acordar e olhar-me no espelho e dizer “hoje estou VIVA!”, trazendo no peito uma bomba de tratamentos de quimioterapia, as lágrimas correm-me muitas vezes pela cara, os meus olhos têm o som de uma cinira que eu tento a todo custo melhorar à medida que as horas vão passando. E às vezes parece que essas horas teimam em ficar paradas, mas tento e tenho conseguido levantar a cabeça falar comigo mesma e insistir que vou conseguir subir mais um degrau, e sorrir, porque o meu mundo tem muito para me dar e eu a ele. Mas…
Depois em dias como o de hoje que nem estou assim tão mal pergunto-me onde andas meu Dom Quixote, que querias encontrar o teu Amor e um moinho, meio caminho eu já o tenho que é o Amor, mas onde se encontra o moinho, a casa, o país, é com este país que estou profundamente angustiada, desiludida até mesmo perdida, porque tenho tanto Orgulho na história do meu Hino que choro ao ouvi-lo, que me custa estar a ser manipulada pelas gárgulas da ganancia, do excesso de poder, que deixa o meu povo sufocado pelos gritos que damos, mas não são ouvidos. Podíamos estar no topo do MUNDO, e olho para este nosso moinho e não encontro futuro. Queria ser otimista ver uma luz ao fundo do túnel mas as notícias fazem-me colocar num realismo absolutamente desesperante, não obstante tento aferroar-me todos os dias para poder estar melhor comigo mesma, não esquecendo que vivo num MUNDO rodeado de MOINHOS. Mas o que eu quero MESMO é sentir-me ORGULHOSA no MEU.
Carla Alves


sábado, 9 de novembro de 2013


"Transformação"
Apesar de todas as injustiças, apesar de acontecerem connosco coisas que não merecemos, apesar de nos sentirmos incapazes de mudar o que está errado em nós e no mundo, o Amor é ainda mais forte e ajudar-nos-á a crescer. E só então seremos capazes de entender estrelas, anjos e milagres.
(As Valquirias)
Paulo Coelho




quinta-feira, 7 de novembro de 2013




Tenho fome de meus sonhos
Oh! terra minha e sua plenitude
Porventura comerei carne de toiros
Em meus pensamentos loiros
Na distância sonhos da minha juventude...

Eis-me aqui desnudada de toda a riqueza
Embora coma de manjares não tão pobres
Ficaria eu na mais dura pobreza
Se a mim viera toda a minha beleza
Perdida em um condado de tempos nobres.

Olho-me e vejo no espelho a imagem de mim
As rugas na minha face e os meus cabelos brancos
Marcam a minha história e deixam-me assim
Na rebeldia de sonhos presos em todos os cantos
Em mil sois em mil luas neles revejo encantos.

Sou o tudo e sou o nada de uma vida arrojada
Sou o sonho sou utopia que a vida nunca apaga
Sou a raiva sou a beleza sou a luxuria sou a tristeza
Sou tanta coisa e não sou nada mesmo nada
Porque a vida esta vida já levou a minha beleza.

Mas afinal quem sou eu? Afinal quem eu sou?
Eu sou a alma de mim que já suavizou
Sou a alegria sou o sorriso  de uma vida vivida
Sou o contorno de mim uma alma alegria
Sou um corpo  que minha alma apaziguou. 

(Escrito por: Angelina Alves)


quinta-feira, 10 de outubro de 2013



Hino à Dor
Sorri com mais doçura a boca de quem sofre,
Embora amargue o fel que os seus lábios beberam;
É mais ardente o olhar onde, como um aljofre,
A Dor se condensou e as lágrimas correram.
Soa, como se um beijo ou uma carícia fosse,
A voz que a soluçar na Desgraça aprendeu;
E não há para nós consolação mais doce
Que o regaço de quem muito amou e sofreu.
Voz, que jamais vibrou num soluço de mágoa,
Ao nosso coração nunca pode chegar...
Mas o pranto, ao cair duns olhos rasos de água,
Torna mais penetrante e mais profundo o olhar.
Lábio, que só bebeu na fonte da Alegria,
É frio, como o olhar de quem nunca chorou;
A Bondade é uma flor que se alimenta e cria
Dos resíduos que a Dor no coração deixou.
Em tudo quanto existe o Sofrimento imprime
Uma augusta expressão... mesmo a Suprema Graça,
Dando aos versos do Poeta esse esmalte sublime
Que torna imorredoira a Inspiração que passa.
É por isso que a Dor, sem trégua nem guarida,
Dor sem resignação, Dor de estóico ou de santo,
Só de a vermos passar no tumulto da Vida
Deixa os olhos da gente enublados de pranto.

António Feijó, in 'Sol de Inverno'



domingo, 6 de outubro de 2013


"Superação"
O amor é cheio de armadilhas.
Quando se quer manifestar, mostra apenas a sua luz - e não nos permite
ver as sombras que essa luz provoca.
(Nas Margens do Rio Pedra eu Sentei, Chorei  e Cantei)



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Há vida nas veias do meu castelo Há vida, na vida da minha história





Há vida no feio, há vida no belo

Há vida no templo da minha memória
Contorno o ciclo da minha vida
Bebo-a a tragos saboreando-a
Cada momento, cada gota de alegria
Vive esta alma na vida. Cantando-a
Há vida nas veias do meu castelo
E até na noite do silêncio frio
Há vida na pedra e no ferro
Nas sombras e na luz do rio.
Há vida em torno de mim
Na luz que antecede a noite
No orvalho que antecede o dia
Há vida nas águas da fonte
Águas que de ti eu bebia
Há vida no meu cansaço adiado
Onde as veias de mim aclamam
Por um tudo que parece parado
Olhos da vida que por mim chamam
Há vida no medo e no silêncio
E nas pedras que se calaram
Há vida no que eu penso e no que não penso
Ah! A cor das palavras que se cruzaram
Nas cores da vida onde a vida não morreu
E, por toda a terra e por todo o céu
Se erga as coisas da vida nomeadas
Haja vida nas palavras caladas
Olho a lua que soluça no mar
Olho o tempo em meu pleno tempo
E pelos rostos do sol e do vento
Aclamo as veias de mim, em hino a cantar
Aclamo ao sol à lua, ao mar à vida
Mantive-me de pé quando o meu castelo caia

(Escrito por: Angelina Alves)




terça-feira, 24 de setembro de 2013




Quando penso que há mais de cinquenta anos, olho o céu, o mar e a terra e, há uns tantos que escrevo sobre a vida à minha volta e tudo o que ela encerra, questiono-me tantas vezes que fazer com os espaços que ficaram vazios, os amigos que se foram sem deixar rasto e os que morreram, que embora nunca esquecidos os seus espaços estão vazios. E, os poetas que eu tanto amei e neles me debruçam alinhando as minhas letras em jeito de poesia. Folhear um livro de moradas, a velha lista de telefones já desatualizada e até mesmo quem mal conheci, mas às vezes com eles me cruzava. Questiono-me a mim mesma se outros mais felizes que eu, terão assim vazio os seus espaços e sentem vazia a sua vida, assim como eu!
Creio que não. A deles se reduz, encolhe de miséria consentida, e torna-se uma sala de visitas onde recebem dia e noite os seus amigos novos. Mas quem de liberdade e lealdade, como o amor humano se viveu, fica num espaço cada vez mais vasto, onde os vivos que traíram e os mortos que morreram tremem de ser lembrados com saudade ardente. E o espaço fica – ah se fica – e ninguém ousa mais que espreitar a medo para dentro dele pelas grades de um verso em que palpita a vida, tão pura e tão ausente como quando um dia, primeiro ela vibrou um cheiro a maresia, ascendendo das águas, luminosas, num corpo ainda escamoso cuja pele seria este sabor de espaço de ternura em solidão perfeita descobrindo o amor. 



No ar quase em memória
Finda, o dia na minha alma
Infantil a minha história
Canta, reza pergunta e fala
Há uma lágrima presa na minha voz
E aos meus dias como a ilusão
Canto o orvalho, a musica a sós
Vazio o espaço triste solidão
Porque escrevo ainda?
Porque uso as palavras cantando?
Porque nada em mim finda
Enquanto houver pássaros voando
Até quando terei eu o uso das palavras
O uso das frases inacabadas que dançam
E, a voz enrouquecida no peito das lavas
Ondulantes que me tolhem que me encantam
Há um espaço, um cheiro sem tempo
Há palavras cantadas por todo o universo
Que nunca morrem, nem as leva o vento
Há espaços, dores e solidão em verso
E, há sons que são de encantamento
De magia, de alegria ou de suplício
Haverá uma música em todo o tempo
Cantável é a música do amor por quem suspiro.


Escrito por:  Angelina Alves



domingo, 22 de setembro de 2013



"Um olhar sobre a ilha de S. Miguel Açores"
(Editado a 23 de Setembro de 1996)

Adeus ilha Açoriana vim despedir-me de ti
Dizer-te que te amo muito e que aqui foi tão feliz
Que encanto é o teu que aqui me prendeu assim
Voltarei prometo: assim meu coração o diz
Olho-te bem longamente, bem lá para o fundo
Até onde os meus olhos te possam alcançar
És a ilha por mim eleita a mais bela do mundo
Encantos nos teus vales e no teu leito de mar.
Há um colorido nesta ilha e neste povo
Há doçura de humanidade hospitaleira
Prometo: Voltarei cá de novo
Que encanto olhar-te, sentindo-me à tua beira.
Como te amo ilha dos meus encantos amo-te tanto
Encantei-me por ti e este amor por ti não finda
O teu encanto encheu-me de encanto
Um olhar sobre ti, bravo, terno: Paradigma.
Deposito em ti todas as forças da minha esperança
Sobre qualquer vértice das horas de todo o tempo
Habitarei em ti nas ondas sobre os teus sorrisos
Elevarei para ti a minha alegria a mando dos ventos
Elejo-te a mais bela ilha que faz cantar os sinos.


Escrito por: Angelina Alves

segunda-feira, 2 de setembro de 2013



Por entre a minha janela

Olho as montanhas que avisto lá ao fundo

As nuvens esvanecidas deixam antever

Um sol que se vai mostrando mansamente:

Olho a montanha ainda vestida de branco, bela

O branco, a luz do sol trazem-te ao meu mundo

... Por breves momentos deixas-te ver

O teu sorriso espalha-se pela atmosfera alegremente.

E, mais uma vez a abóboda da tarde acaba

O sol finda sobre a minha janela

Vejo-o partir sempre à mesma hora

E, também o vejo chegar:

O silêncio da terra me embala e cala

A lua já me sessega

O mar que em minha mente sempre mora

Deixa-me leve, a sonhar.

Abro as portas da minha alma

Deixo toda a tristeza sair

Ergo todas as minhas esperanças

Ao sol que há pouco me iluminava:

Deixo-me ir

Pensamentos de ti, lembranças

A força do teu sorriso que eu, tanto amava.

A bruma de ontem voou

O sol cortado a diamante

Lavrou a terra, aprofundou o dia

O mar mostrou-se confiante

A flor na terra floria

A melodia nasceu, para ti a minha alma cantou.

Escrito por: Angelina Alves



sábado, 24 de agosto de 2013




Quero cantar para ti a delícia extrema da alegria
E que seja este meu cantar repartido
Por todos os cantos do mundo onde há vida
Pudesse eu repartir só sorrisos, alegrias, hino
Um novo hino de paz onde todos pudéssemos ser felizes
Um cantar de esperança onde a tristeza não tivesse lugar
Oh! Quem me dera poder só cantar a delicia extrema da alegria
Não haver corações tristes na dor da perca dos seus filhos
Hoje por ti eu canto aos olhos do teu sol: Vida
Tu, que me instigas a viajar pelos campos verdejantes onde as raízes
Da natureza viva se removem sem nunca parar...
Há um bando de pássaros que espalham  sorrisos de cantar
E, o Sol transmite um resplendor que me envolve em lençóis de areias e ventos:
A delicia extrema da alegria. é preciso reabrir as janelas da vida e deixar o Sol entrar
Devagarinho sugo o meu dia: Beijo o teu sorriso toco os teus dedos.
Deixo-me ficar sossegada, olhando a natureza que se transforma e vive
Olho o rio que passa lá ao fundo deixando soar 
Um eco pálido como uma garganta seca sem água, assim mesmo tem a sua beleza.
Agradeço a Deus" todas as alegrias que contigo tive
Agradeço a Deus" A alegria que para ti quero cantar
Canto para ti, com muita saudade e ainda que, com tristeza
Canto por ti e para ti a delicia extrema que é a vida. 

(Dedicado a ti minha muito amada filha)


Escrito por: Angelina Alves


domingo, 18 de agosto de 2013



Escrito quando a minha querida filha adoeceu e, eu tinha muitas esperanças da sua cura. Quis Deus levá-la para junto Dele" A 24 de Janeiro de 2013.

(Reeditado)

De quando em quando retrocedo no tempo, gosto de evocar a tão grata recordação dos tempos em que vivi na minha adolescência com a minha querida avó, e o quanto foi dolorosa a minha separação aquando da sua morte. Quando ela falava comigo, quase segredando-me ao ouvido e muito aconchegada ao seu peito.  Um dia quando partir para um lugar longínquo, é meu desejo proteger-te sempre: Sempre estarei por perto de ti, basta chamares por mim e eu estarei por perto. Oh! quantas vezes chamei por ti minha querida avó e nunca os meus olhos te viram ou ouviram. Hoje consigo entender as tuas palavras porque elevo para ti o meu pensamento de uma forma mais atenta, mais suave, mais tranquila e, de uma certa maneira até consigo sentir a tua presença...o cheiro a rosas em certas alturas e o cheiro do pão quente: Eu sei que estás por perto. Hoje já não tenho angustia no meu coração, aceitei a vida tal como ela é, sem exigir o que não posso exigir, passei a estar atenta: muito atenta aos sinais que: ainda tenho muita dificuldade em os entender mas, tenho-me esforçado o suficiente para entender o quanto é maravilhosa esta vida e agradecer tantas vezes a Deus pelo privilégio que me deu em nascer aqui, para me conhecer e crescer como um ser humano de bem. Muita coisa tenho aprendido mas, nunca é o suficiente, para parar, pois a aprendizagem terá de ser constante e sempre com o mesmo afinco. A doença da minha filha querida encheu-me de tristeza, o desapego do meu querido filho juntamente com o seu silêncio tem sido muito complicado. Mas também ao meu querido filho estou a dar-lhe tempo. Ele sabe bem o quanto o amo e ele, está no meu coração bem juntinho com a sua irmã, apesar de muitas vezes ela dizer que eu gosto mais da irmã que ele. Claro que não, amo ambos, mas, a doença da minha filhota faz-me estar mais de perto dela, mas no meu coração de mãe, estão ambos sempre com o meu pensamento cheio de amor por ambos. Recordo-me sempre com a ternura com que tu me tratas-te sempre, o amor com que sempre me consolas-te, tal como uma mãe consola os seus filhos.
Tenho tido dias de lágrimas: Tenho tido dias de muitas bênçãos também. Enquanto o sol iluminar a Terra, a minha alma vai amadurecendo. Oh! minha querida avó, como gosto de escrever sobre ti e para ti...


Oh! como é doce lembrar os tempos
Da minha infância da vida em flor
Tempos de inocência arminhos
Tu me acompanhavas nos caminhos
E enchias a minha infância de tanto amor.

Por isso embora tão pequenina
Lembro de teus afectos falavas de Jesus
Agarravas na minha mão e prometias
Proteger-me nos passos que a vida conduz.

Foi na primavera da minha vida
Quando a rosa foi desfolhada olhei o céu
E senti-me protegida calor imenso
Um calor que só podia ser o teu.

Mas, ficou ainda meu coração exilado
Ficaram também meus olhos a lamejar
Ficou minha alma, presa num tempo parado
Até de novo me voltar a encontrar.


Escrito por: Angelina Alves





quinta-feira, 15 de agosto de 2013





Há largos anos atrás, estava sentada nesta mesma mesa a escrever, só que nessa altura não estava só. Tinha-vos a meu lado, eu pensava que iríamos estar sempre por perto até ao fim dos meus dias.
Foram muitos anos de tranquilidade, amor construído com muita paciência e muita dedicação. Fui uma mulher feliz, fui uma mãe dedicada. Cada dia era um monumento à paz e à harmonia. e posso dizer sem qualquer pudor que era um amor feito só de amor e cheio dele. Eu pensava que haveriam poucas relações assim...
Inevitavelmente separámos-nos: As convenções sociais, as barreiras erguidas pela religião católica, o medo e a culpa sempre presentes na existência dos homens tiveram efeitos devastadores e perversos na construção da génese amorosa; o sexo foi, de uma forma ou de outra, sempre visto como algo proibido, e ainda que atenuado como expressão de um amor, era sempre o amor carnal, a prática de um pecado cujo castigo seria cumprido com a expiação na terra, ou com o bilhete de ida sem volta ao inferno depois da morte. E apesar disso.ou. quem sabe, exactamente por isso, os homens e sobretudo as mulheres nunca desistiram do amor.
Nunca quis desistir do amor. Por isso me deixei levar neste amor por ti.  Mas, será que foi mesmo amor? Não terá sido esta loucura por ti apenas um reflexo do meu pânico perante a realidade que tanto me atormentava?
Quando te vi pela primeira vez, vivia então dias tristes.Tinha morrido o meu tio o então Tutor. Dois filhos lindos e um homem a quem tanto amava
.
Há discussões que, por mais violentas que sejam, sabemos que depois se dissipam como poeira e não deixam marcas.E há outras que mudam para sempre a nossa vida. Troca de palavras que são como diagnóstico de graves doenças; e, o que fica por dizer é pior que tudo o que se disse, mas há um medo tão grande em enfrentar a verdade que se deixa subentendido aquilo que é demasiado duro para ser dito.Apercebi-me logo que a minha relação contigo tinha acabado, que entre nós já não haveria entendimento possivel, que a minha mais bela e certa e segura e tranquila história de amor, a única que tinha vivido como possivel, que não era fruto da minha imaginação delirante ou da minha persistência de camelo no deserto, estava irremediavelmente perdida. 
Foram tantos anos contigo que te dei da minha vida, sonhos, viagens, muitos beijos e muitas conversas, uma vida partilhada que eu julguei ser só minha. Eu, acreditei que irias fazer sempre parte da minha vida, até ao fim. Foste o sossego do meu desassossego e, depois trais-te-o da pior forma.. Começas-te com uma mentira e acabaste com um cento delas.
Naquela tarde terrível de Setembro, sob um calor abrasador, fiquei fechada dentro do carro à porta do teu escritório, sem fazer qualquer movimento, como se o mundo à minha volta, tal como o conhecera contigo, tivesse sido destruído por um intenso terramoto e não tivesse ficado pedra sobre pedra. Durante muitos anos acreditei que eras o único homem para mim que essa ideia se apoderou da minha cabeça, do meu corpo e do meu coração. A repetição dos mesmos gestos acaba por nos impregnar deles. Tudo em mim se habituou a ti; o meu corpo, o meu coração, os meus olhos, o meu sono e a minha vida. Quando me separei de ti, da nossa casa, vi a minha realidade de uma forma irreversível, era como se me arrancassem os membros, sentia-me paralisada, perdida, sem saber para onde ir, assustada e ferida, sem saber acreditar no que me estava a acontecer, mas sobrevivi!... 
Foste o lobo e o cordeiro, magoas-te os teus e os meus e matas-te o meu amor por ti que durou até à morte da minha querida filha.. Hoje, acho que tudo tem um propósito na vida. Desde que me separei de ti, nunca estive disponível para voltar a amar, porque no meu coração estava presente o fogo do único homem que o tinha aberto e nele tinha entrado e ficado apesar dos pesares.. Não te condeno, nem te odeio, nem te quero mal. Apenas abri o meu coração e mandei-te embora. Hoje estou liberta do passado que tive contigo. Estou liberta de ti. 
Lamento ter magoado a quem não devia. Todos nós queremos a verdade. Mas dificilmente haverá alguém para saber lidar com ela. Será pouco entendivel para os demais o que aqui deixo escrito. Mas haverá alguém que ao passar por aqui saberá ao que me refiro..
Nos somos o nosso passado, e ignorá-lo ou esquece-lo é uma forma de cobardia.

Escrito por: Angelina Alves

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