quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"Extractos da minha viagem"



Há discussões que, por mais violentas que sejam, sabemos que depois se dissipam como poeira e não deixam marcas. E há outras que mudam para sempre a nossa vida. Trocas de palavras que como diagnósticos de graves doenças; o que fica por dizer é muito pior do que tudo o que se disse, mas há um medo tão grande de se enfrentar a verdade que se deixa subentendido aquilo que é demasiado duro para ser dito. Tivemos uma dessas discussões e, pior do que isso, tinha percebido quando a discussão acabou, que a minha relação contigo também tinha acabado, que entre nós já não havia entendimento possível, que a minha mais bela e segura e tranquila história de amor, a única que eu tinha vivido como possível, que não era fruto da minha imaginação delirante ou da minha persistência de camelo no deserto, estava irremediavelmente perdida. Foram vinte e dois anos da minha vida contigo, sonhos, viagens, muitos beijos e muitas conversas, uma vida partilhada que acreditei iria ser a minha vida, até ao fim da vida, porque sempre acreditei nas tuas promessas - ingénua eu fui. Quase vinte anos passaram, ainda revivo alguns momentos de grande glória que nós vivemos, nuances que passam como um véu nublado. O maior obstáculo da alegria é muitas vezes a ambição a alegrias maiores. Sonhei com uma relação perfeita: não existe. A vida tem-me posto à prova e eu, tenho estado à altura. Nunca baixei os braços nem mesmo quando sabia que para comer um pedaço de pão tinha que subir ao cume da montanha. A vida tem-me dado uma grande lição de vida, fez de mim uma mulher guerreira. Morrerei de pé como as árvores. O medo essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, deveria vir no dicionário como anónimo de vontade. O medo é como um terreno minado: nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos. Mas eu atravessei-o e não tendo pisado nenhuma mina, salvei-me. As vicissitudes da vida e as agruras, encorajaram-me, fortaleceram-me e arrancaram-me o medo de enfrentar a vida sozinha. Assim tem sido vai para vinte anos. Assim vai continuar enquanto a vida me quiser por aqui e Deus deixar.

Extractos de Angelina Alves


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