quarta-feira, 25 de novembro de 2015

"Extractos da minha viagem"


Não. não basta um minuto de felicidade para encher a nossa vida, porque a nossa vida é feita de muitos minutos e cada um deve trazer-nos mais do que uma doce e ténue recordação de algo gracioso que tivemos e perdemos. Não bastam dias de sonhos, semanas de paixão, meses de elevação e vontade, porque a verdadeira vida ´é a que se constrói todos os dias, feita de gestos, atenções e cuidados, pequenos nadas que são quase tudo. 
O tempo vai limando as arestas e tecendo as teias da nossa desventura, resta fechar as portas e desejar encontrar o nosso caminho futuro.  A nossa vida muitas vezes acontece como um dominó. Passamos dias, semanas, meses, anos, a construir os nossos sonhos e, num breve instante, alguém tropeça nele e tudo se desfaz e desmorona. numa sucessão de azares impossível de travar. Quando o meu dominó começou a cair, juntei-lhe mais peças na cauda e aproveitei para limpar fantasmas na enxurrada. 
Assim sofri tudo de uma só vez, condensei a frustração num par de dias e fiquei a enxaguar a tristeza até ela secar o sol.
Depois com muita calma comecei a montar novamente o meu dominó, e aos poucos vejo-o a crescer sozinho como se o embate que fez as peças cair tivesse o poder de as levantar.
A esta capacidade rara de transformar o problema em soluções e encontrar novos caminhos em encruzilhadas a que eu chamo de persistência e sentido de justiça.
Sou e serei sempre uma mulher persistente, sempre tive em mim o sentido de luta, de justiça pelos sonhos e por isso nunca desisto mesmo quando tudo já parece perdido e isto em todos os sentidos. Seja no amor, na vida profissional os amigos e até em tudo o que parece mais simples, porque são as pequenas coisas que fazem de nós grandes seres Aprendi muita coisa ao longo da minha viagem: nada foi em vão. Aprendi com os meus erros, porque é quando se perde que a lição´é mais importante. Deveria ter ficado quieta mais vezes, deveria ter respeitado o teu silencio e o teu espaço, deixar-te em paz em vez de te pedir ao mundo, porque iria sempre amar-te, estivesses ou não a meu lado, porque fizes-te parte de mim, mesmo sem saber se eras a primeira ou a ultima peça do meu dominó, mesmo sem saber se o irias por de pé ou deitá-lo abaixo.
Sei que a vida quase nunca é como nos livros e muito menos como nas histórias exemplares, do tempo dos réis e das fadas, em que o príncipe, quase sempre atrasado, ou distraído, ou exausto, depois de ter enfrentado dragões ferozes e bruxas malvadas, rompia o silencio, o tempo, o feitiço, os portões e, tornando realidade o que parecia impossível, regressava no seu cavalo branco e rasgava com um beijo a sua amada princesa. Nessas noites eu ainda sonhava com esse beijo.Fomos evitando por medo ou pudor, porque ambos sabíamos que seria igual ao primeiro: perfeito, sublime e inesquecível. Não estivemos destinados à fusão, à soma de todas as partes para um todo maior do que nós, a cumprir um sonho que ambos desejávamos e que há muito se desvaneceu com o passar dos anos. A perfeição é um engodo, nunca existiu na continuidade, apenas se faz apresentar por escassos e velozes momentos durante toda uma vida.
"Dizer: Está resolvido, é uma palavra muito escorregadia" 
Um amor verdadeiro não morre nunca.

Escrito por: Angelina Alves



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