sexta-feira, 2 de julho de 2010

"Contrastes"

Não me custou nada adaptar-me à minha terra natal, a cidade que me acolheu de braços abertos, depois de tantos anos ausente. Deixei esta cidade perto dos seis anos para ir para um colégio interno, Lisboa, mais própriamente em Odivelas. O destino trouxe-me de novo às minhas origens. Tenho reconhecido com facilidade os odores, as cores, os cantinhos da minha infância, que embora tudo esteja mais velho ainda está tudo identificável, sobretudo, na aldeia dos meus avós. Aos fins de semana vou até à aldeia onde faço grandes passeios a pé, revivendo cada monte, olhando cada vale como que nunca tivesse estado ausente. Escuto o cantar dos passarinhos no silêncio mágico onde me traz todas as recordações da minha linda infância. Quando acordo na aldeia  sinto a carícia de todos os odores a beijar-me a face, o cheiro a terra molhada quando chove no Verão quente, (único). Quando me sento na varanda onde a minha querida avó pegava em mim ao colo, consigo ouvir as palavras da minha avó quando me dizia: Olha minha querida e pequenina princesa, olha aquela estrela lá no céu, quando eu morrer estarei ali para te proteger; é simplesmente mágico toda esta minha vida vivida por estas terras que são as minhas origens. As vissicitudes da vida e suas agruras, roubaram-me muita coisa, mas reconquistei esta riqueza que me dá tanta felicidade tanta paz de espírito, tanta calma. Por isso eu digo: Nunca fui tão feliz como o sou agora, apesar de algumas dificuldades, mas tudo é superado com outro saber, com outra postura, com muita vontade de viver ainda que seja na sequencia de um dia a seguir ao outro.
Não entendo nada de agricultura, mas aprendi a cultivar flores. Dei vida a um grande espaço que outrora era para pasto de galinhas e porcos, aquando do tempo dos meus avós. Fim daquele espaço o meu jardim secreto, onde cada flor que eu semeio, dou-lhe uma história, representando assim a minha vida passada, cheia de coisas contadas em cada flor. Revivo no meu jardim onde semeei minha vida contada na vida de cada flor, algumas vão morrendo mas, logo semeio outra. Esta é a forma de eu manter viva toda a minha existência na passagem por este mundo. Aqui relembro os belos dias passados com todos aqueles que muito me amaram e que já partiram para outra dimensão. Aqui os meus pensamentos tornam-se profundos aquando das minhas meditações onde eu me encontro com a minha consciência e reflicto sobre a minha existência. Aqui recarrego as baterias que me ajudam a estar cada dia com mais força, com mais ânimo para ultrapassar certas dificuldades, tais como a grave doença da minha amada filha e até o afastamento e o silêncio despreocupado do meu igualmente amado filho.
Aquela tarde passava depressa; Era preciso voltar aos Buissontes; mas antes de abalar tomava a merenda, que havia no meu cestinho. Ah! a bela fatia de pão barrada com mel e açúcar preparada pela minha avó, sempre do mesmo jeito colorida e gostoso de me abrir o apetite. Com esta lembrança fechei a porta da casa da aldeia e regressei à minha cidade onde vivo em Chaves que fica a 18 quilómetros desta mágica a por mim muito amada. A aldeia de tudo o que de bom me lembro da minha infância.
Caju um raio na terra de um vizinho, bem perto, eu senti qualquer coisa que me encantou...Pareceu-me que DEUS, estava bem perto de mim. Como quando naquele dia longínquo se toldou subitamente o belo céu azul do campo; quando os relâmpagos fuzilavam deslumbrantes. Olhei à direita e à esquerda para nada perder deste majestoso espectáculo: Assustador mas eu, sem me assustar. Olhei parada fixando o infinito...

1 comentário:

Anónimo disse...

Angelina, querida amiga,

Tudo em ti é sensível e aqui não poderia ser diferente!

Parabéns e um grande abraço,


Yara (eosol)